Como método de interpretação a psicanálise trabalha com a investigação do inconsciente, ou seja, busca evidenciar o significado dos processos mentais, das palavras, sonhos, fantasias, atitudes etc. Para de tal maneira, os estudos psicanalíticos a partir da investigação do inconsciente parte de algumas proposições: os processos inconscientes afetam significativamente a vida consciente, mas de forma que o sujeito não dê conta dessas manifestações; o inconsciente desempenha papel importante nas ações humanas; o esforço da psicanálise consiste em tornar consciente o inconsciente.
Há 120 anos o neurologista austríaco Sigmund Freud (1856-1939) interessava-se pelos aspectos psicológicos de doenças nervosas. Ou seja, interessava-se pela interpretação de forças inconscientes do psiquismo a fim de trazer à tona o trauma responsável pela neurose (conflito que constitui o sujeito).
Todavia, torna-se importante frisar que a intenção neste breve texto é evidenciar a psicanálise como uma das formas de interpretação da realidade concreta e não temos a intenção de resumir ou tampouco sintetizar a complexidade desta ciência, já que experimentamos aqui uma introdução ao campo da psicanálise a partir dos seus conceitos fundantes, como veremos a seguir.
Teoria Topográfica – 1ª tópica
Freud apresenta em 1900 no livro A Interpretação dos Sonhos a primeira teoria sobre a estrutura e o funcionamento da personalidade. Esta teoria refere-se à existência de três sistemas psíquicos denominados Inconsciente (Ics), Pré-consciente (Pcs) e Consciente (Cs). De acordo com Zimerman (2007, p.82), Freud utiliza a palavra “aparelho” para caracterizar uma organização psíquica, dividida nos três sistemas citados. Tal organização diz respeito a primeira tópica acerca do psiquismo. Vejamos:
O Inconsciente pode ser caracterizado como o conjunto de conteúdos que não estão presentes no campo da consciência, ou seja, conteúdos recalcados que resistem a tornar-se conscientes. Seu conteúdo é atemporal, não existindo a noção de passado ou presente. Segundo Bacelar (2016), o inconsciente pode ser caracterizado por um conjunto de conteúdos que sofreram recalcamento.
O Pré-consciente faz referência ao sistema onde permanecem os conteúdos acessíveis à consciência. Em outras palavras, este sistema funciona como um arquivo, onde tais conteúdos não estão disponíveis na consciência, mas que em algum momento poderá vir à tona.
O Consciente é o sistema do aparelho psíquico que recebe informações do mundo interior e também do mundo exterior, ao mesmo tempo.
Teoria Estrutural – 2ª tópica
Contudo, na atualidade destaca-se a relevância da segunda tópica, ou da teoria estrutural, desenvolvida por Freud (1920-1923), a partir dos fenômenos oriundos do inconsciente. Ou seja, Id, Ego e Super ego, que a sua vez, são as descrições desses fenômenos de ordem subjetiva que constitui o sujeito. No entanto, o Id em sua plenitude, partes do Superego e do Ego são inconscientes.
O Id é a estrutura da personalidade presente desde o nascimento. E ele opera de acordo com o princípio do prazer, ou seja, almeja satisfazer seus desejos, ocasionado dessa forma a redução da tensão e proporcionando o prazer. No entanto, o Id constitui as pulsões psíquicas, em outras palavras, os impulsos elementarmente humanos e primitivos, que visam a satisfação imediata e egoística dos desejos. Ele precisa do ego para controlá-lo e direcioná-lo.
O Ego é a parte executiva da personalidade. E vai funcionar e operar de acordo com as condições determinadas pela realidade. O ego é mais vasto do que o sistema pré-consciente e consciente, na medida em que as suas operações defensivas são em grande parte inconscientes”. O Ego está numa relação de dependência quanto às reinvindicações do Id como aos imperativos do Superego e exigências da realidade. Embora o Id seja um mediador encarregado dos interesses pessoais e totalitários do indivíduo, a sua autonomia é relativa.
O Superego – É o representante internalizado daquilo que o indivíduo considera ser basicamente certo e errado. Pode-se dizer que o Superego representa os pais de determinado indivíduo, atrelando a eles a coerção, interdição, repressão etc. Para Freud o papel do Superego é equivalente à de um juiz, ou de um censor relativo ao ego. No mais, o Superego visa a nos fornecer um ideal de Ego. Outrossim, é a porção moral da personalidade.
O ser humano é amplamente governado pelo inconsciente, outrossim, estar com Freud é entender o ser humano interpelado pelo inconsciente. Portanto, o desígnio do trabalho psicanalítico é o deciframento do inconsciente e a integração dos seus conteúdos na consciência. Todavia, são esses conteúdos desconhecidos e inconscientes que determinam, em grande parte, o comportamento dos seres humanos e grupos sociais. A exemplo disto podemos citar as dificuldades para viver de maneira harmoniosa, ocasionado o mal-estar, o sofrimento, a angústia, as neuoroses etc.
Sendo assim, a finalidade do trabalho psicanalítico é o autoconhecimento tendo em vista a possibilidade de lidar com o sofrimento e criar mecanismos para a superação de dificuldades, conflitos etc. Cujo objetivo é auxiliar o ser humano a se empoderar, ou seja, tomar as rédeas de sua vida, experienciando-a de maneira mais autônoma e criativa.
Referências
BATISTA, William. O devir da verdade: fundações da filosofia. Rio de Janeiro: letra Capital, 2012a. p.161-169.
ZIMERMAN, David E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica - uma abordagem didática. Porte Alegre: Artmed, 2007. [Recurso eletrônico].